domingo, 8 de janeiro de 2012

A amante de Baudelaire

Jóis Alberto

A melhor poesia é viver com arte e amor.
Às vezes, todavia, me ocorre um complexo de inferior:
Poderia – quem sabe? - amar mulheres mais propícias
À minha sensibilidade, caráter e cultura.

Mas muito me apraz e delicia
A companhia daquelas que, sem maiores leituras,
Têm por nobres encantos
O bom humor, a dedicação e a ternura.

Raras são as mulheres bem sucedidas e intelectuais
Que um poeta inadaptado, como eu, pode suportar.
Charles Baudelaire, por exemplo, amou uma mulata
Beberrona e analfabeta
Que mesmo assim o desprezava
Porque, embora ele fosse grande poeta,
Não sabia ser prático, nem ganhar dinheiro,
Nos informa o cáustico Eduardo Frieiro.

Assim como essa amante de Baudelaire
Procedem em Natal laureadas e provincianas
Poetisas e sabichonas, leitores de Caras e Marie Claire
Que avarentas, perdulárias ou arrivistas
Julgam todos – aurea mediocritas –
Pelo critério de muito possuir dinheiro e fama.



FONTE: Poema publicado no livro “Poetas azuis paixões vermelhas amores amarelos” (Poesia e prosa), de Jóis Alberto  (Natal: Sebo Vermelho, 2003).



Mulheres natalenses, tanto as poetisas, escritoras, como de outras profissões, que leem revistas como a de "Joyce Pascowitch" e "Marie Claire" são sempre elegantes, bem educadas e nunca tem preconceitos de classe, nem são provincianas?


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