domingo, 8 de janeiro de 2012

Provincianismo, amadorismo, ‘profissionalismo’ e o mal-estar na civilização...

Jóis Alberto

Tratar eternamente certos literatos e artistas locais como ‘figuras folclóricas’ é um dos mais abomináveis provincianismos nos meios literários e culturais de Natal/RN. Tal tratamento dispensado deveria nos causar ainda mais vergonha e constrangimento quando aparenta ser uma homenagem, mas que na realidade é expressão de soberba  elitista, com a qual o cidadão e a cidadã que lutam para elevar o nível dos debates e embates artísticos e culturais na cidade não podem ser coniventes, nem tolerantes.    
Essas palavras – folclore, provincianismo, amadorismo, profissionalismo, com ou sem aspas, de tão usadas, merecem melhor análise dos significados. Provinciana, por exemplo, se tem um significado referente às coisas boas de pequenas e médias cidades, como tranquilidade e baixos índices de violência urbana, pode ter evidentemente uma conotação boa, uma acepção positiva. Pode até significar boa ironia, como em Câmara Cascudo, que teria se proclamado um “provinciano incurável”, certo?  Merece repúdio, contudo, quando o vocábulo ‘provincianismo’ assume a conotação, o significado de coisas deploráveis como arrogância, inveja, mesquinhez, difamação, hipocrisia, anacrônico elitismo literário e cultural, etc... 
O escritor potiguar Luís da Câmara Cascudo se considerava, com ironia, "um provinciano incurável"

No contexto urbano e ‘civilizatório’ contemporâneo ainda prevalece o embate entre uma hegemonia neoliberal, em que predomina o salve-se-quem-puder, carreirismo, arrivismo, etc, em oposição a uma contra-hegemonia, que luta por exemplo pela democratização e a cidadania cultural. Nesse contexto, no ‘cosmopolitismo’, na ‘globalização’ do arrivismo elitista e colonizado, do salve-se-quem-puder imposto pela governança neoliberal, a palavra ‘profissionalismo’ pode assumir uma cínica acepção.
Como se sabe uma das características mais elogiáveis e democráticas da internet é a possibilidade de o usuário poder interagir na vida social com maior rapidez e com recursos de multimídia, e nesse aspecto a criação de sites pessoais e blogs, a participação em redes sociais são iniciativas que, na atualidade, conectam grande parte da população do planeta na rede de computadores.
Um blog, portanto, pode ficar perdido e com pouca audiência/interatividade em meio a milhões de outros da tal ‘blogosfera’. Não divulgá-lo, não promovê-lo suficientemente significa de fato amadorismo? E quando blog, que, mesmo com baixa audiência/interatividade, consegue altos patrocínios financeiros do Município, do Estado, da União, significa isso profissionalismo ou um novo tipo de sinecura – a sinecura digital-cibernética (eis um neologismo a se pesquisar se existe ou se está pra se inventar)?
Em termos de jornalismo digital de arte e cultura considero profissionalismo principalmente combater os diversos tipos de preconceitos, de provincianismos, o compadrio, a corrupção de quem corrompe e de quem se deixa corromper, o anacrônico elitismo com que se pretende cercar a poesia e demais manifestações artísticas e culturais da chamada alta cultura, etc.
Poesia, musas, pinturas, outras artes e tradições da 'alta cultura' só estão acessíveis a uma elite e inacessíveis a poetas marginalizados?     

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