quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Educação, poder e sociabilidade

A literatura de Kafka, na visão de artistas e  intelectuais do 'underground', como David Z. Mairowitz e Robert Crumb, em versão francesa



Jóis Alberto
A educação em massa,  destinada a grandes contingentes da população,  é uma tendência contemporânea mundial, embora ela seja mais disseminada em alguns países, enquanto em outros persistem resistências a esse tipo de educação, como por exemplo a resistência por parte daqueles que temem perda de qualidade no processo educacional. Mas o fato é que, graças à revolução da informática, das telecomunicações e do advento da internet, com novas tecnologias às quais se somam outras, tradicionais, como a imprensa, o telefone, o rádio e a TV – estas renovadas e adaptadas à tecnologia digital, atualmente em processo de ebulição da convergência tecnológica –, vivemos hoje numa época de difusão em massa da informação e do conhecimento. Todavia, esse processo irreversível de democratização em larga escala do conhecimento e do saber,  nem sempre foi assim. Pelo contrário. Durante muito tempo o acesso à escrita, à alfabetização, à cultura, era privilégio de uma elite, de uma aristocracia, que exercia, nessa elitização, uma forma de poder.
Do ponto de vista cultural, a língua, a fala, o trabalho em sociedade, são algumas das principais características do ser humano. O uso da palavra, por exemplo, mais do que diferenciá-lo de outros animais –, que por sua vez fazem uso também de tipos específicos da linguagem –, mostra que a natureza da ‘comunicação’ no ‘reino animal’ não se compara à revolução que a linguagem humana provocou na relação do homem com o mundo. O trabalho humano, por sua vez, é a ação dirigida por finalidades conscientes, a resposta aos desafios da natureza na luta pela sobrevivência.  Enquanto o animal permanece mergulhado na natureza, o homem é capaz de transformá-la, tornando possível a cultura. Desse modo – ao contrário do que pregam alguns radicais do neoliberalismo, de que só existem os indivíduos e as famílias, e que a sociedade é uma abstração –, podemos concluir que o homem é, principalmente, um ser social, um ser que vive em coletividade.
 Nesse sentido, a educação é normalmente conceituada como o processo que possibilita que as novas gerações aprendam, e algumas vezes desafiem o conhecimento, valores e comportamentos das gerações anteriores. Tradicionalmente, a educação é adquirida em colégios, faculdades e locais de trabalho, embora na atualidade, seja crescente  a importância da internet na formação cultural e educativa das pessoas – são vários os exemplos disso, mas vou citar apenas um, o do crescente setor educacional de ensino à distância pela internet. Apesar dessa e de outras mudanças atuais,  a maioria das pessoas ainda aprende com professores pagos para ensiná-las, tradição que deverá continuar ainda por muitos anos, embora sempre apareçam por aí, ‘futurólogos’ que preveem o fim da figura do professor e das escolas, pelo menos como conhecemos hoje.
Quanto ao sistema escolar, podemos lembrar, inicialmente, que grande parte dos países, principalmente a partir do século 19, estabeleceu um sistema escolar formal, no qual as crianças começam a frequentar a escolar, regularmente, por volta dos cinco anos de idade. No caso do Brasil, o País segue o modelo educacional francês, com o currículo sendo ensinado em todo o território nacional. Na atualidade, o currículo do ensino fundamental tem uma base nacional comum, complementada em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar por uma parte diversificada. 
A EDUCAÇÃO E A SOCIEDADE
Nas sociedades primitivas era fundamental saber caçar, fabricar armas e utensílios. Com o progresso das sociedades, os professores tornaram-se cada vez mais necessários. Dentre os docentes precursores, na antiguidade, figura Confúcio, na China. Em Roma e na Grécia clássica, a arte da retórica (capacidade de persuasão e comunicação em debates e palestras) era muito valorizada.
Por volta de 1150 e 1200 – com as escolas mantidas em mosteiros e palácios, e surgimento das primeiras universidades, a educação foi se tornando mais acessível para as pessoas do povo, e não apenas para os filhos dos ricos. Como registram os livros de história e literatura, no Ocidente a Igreja cristã contribuiu muito para isso: em vários países europeus, as primeiras escolas para os pobres eram administradas pela igreja local e o Padre trabalhava como professor. Da mesma forma que a Igreja foi palco para as primeiras universidades, com os Clérigos, na Europa. Mas já nessa época existiam intelectuais excluídos, os ‘poetas marginalizados’, etc, etc, como são exemplo os goliardos, clérigos pobres, etc... 
Dos goliardos, clérigos pobres das primeiras universidades na Europa, na Idade Média, espécies de trovadores daqueles tempos ou 'poetas' boêmios, 'marginais', 'beats', etc, da contemporaneidade... 

...à educação em massa, na atualidade, tipo de educação que tem crescido graças à revolução da informática e das telecomunicações, o processo educacional e cultural em escolas e universidades sempre foi marcado pelos embates entre uma elite do poder e o acesso dos pobres e trabalhadores à informação, ao conhecimento e ao saber  

Séculos depois do advento das primeiras universidades, na Europa e outros continentes, à medida que os países se industrializavam, ocorreram pressões políticas para a formação de operários mais bem preparados. No século 19, surgiram as primeiras formas de ensino oficial público para todos. Durante o século 20, a educação formal de crianças nas escolas difundiu-se pelo mundo.
 E agora, em 2012, quais as perspectivas para a difusão do ensino e aprendizagem? No caso do Brasil, das últimas décadas para cá, alguns dos principais fatos ocorreram na área da legislação educacional, na qual se destacam a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação; o PNE – Plano Nacional de Educação; o ensino fundamental de nove anos; a educação do campo, educação escolar indígena e educação escolar quilombola; a educação especial; a educação de jovens e adultos; ampliação do acesso ao ensino médio; educação profissional e tecnológica; implantação dos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais; além de programas governamentais para ampliação e construção de novas universidades; estímulos ao maior acesso de alunos oriundos da escola pública às universidades, tanto nas públicas quanto nas particulares, nestas através de bolsas de estudo; bem como o debate atual acerca do papel da educação na sociedade tecnológica e os novos paradigmas, etc.    
Partindo, portanto, da constatação da função social da educação, e de que o homem só existe, como homem, em sociedade, o renomado estudioso Antônio Joaquim Severino, no texto “Educação e poder: o jogo da sociabilidade”, do livro “Filosofia da Educação” (S.Paulo: FTD, 1994, p. 67-77), mostra como, nas relações de educação e poder, os homens se hierarquizam em decorrência do jogo articulado entre a divisão técnica do trabalho e a simbolização valorativa de seus próprios interesses. A educação reproduz a sociedade, que, por outro lado, pode ser transformada pela educação.        
                

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